Dezembro
aproximava-se… e com ele, o Natal…
Violeta Maria parou um bocado suspensa
nesse pensamento… Com o Natal a bailar na mente aproximou-se da janela, lançou
o olhar em redor e…perdida na imensidão do horizonte, viajou no tempo… ao tempo
em que a sua terra natal ainda não conhecia luz elétrica, ao tempo em que as
ruas eram estradas de terra batida, caminhos estreitos e pedregosos ou
carreiros pelos campos ou serranias…
Nessas alturas não havia tristeza, as
crianças espalhavam risadas de alegria, as mulheres, atarefadas com a lida da
casa e com os animais de capoeira, cantavam enquanto trabalhavam, os homens,
aqueles a quem cabia o trabalho mais pesado assobiavam, por vezes também
cantavam, como forma de esquecer o esforço ou enganar a pobreza. Sim, porque
ali também vivia a pobreza…
E Violeta pensou nos seus amigos de
infância. Na pureza, na simplicidade e no amor genuíno que sempre os unia,
mesmo no meio das pequenas zangas. Então, na altura de Natal, iam pelos montes
recolhendo musgo, pinhas, ramos de azevinho para fazerem o presépio na escola e
enfeitarem a sala. Sala bonita, sala enfeitada, era linda de se ver! E, no último dia de aulas antes das férias
natalícias, junto ao presépio rezavam a Jesus, pedindo paz, saúde e ajuda para
os mais necessitados, ao mesmo tempo que faziam promessa de bom comportamento.
Parou um bocado neste pensamento, neste
reencontro de amigos e reviveu um Natal, aquele Natal que, mais do que um Natal
foi uma grande lição de vida!
Tinha ela oito anos. Oriunda de uma
família de lavradores, nunca lhe faltou comida, sempre tivera roupa e calçado e
até tinha alguns brinquedos, mas… a família que vivia em frente, não sendo uma
família numerosa, era muito pobre. Eram apenas três pessoas, o Nelo de oito
anos, a Rosita de seis e a mãe, a Sr.ª Rosa, que ficara viúva pouco depois da
Rosita nascer.
As pessoas da terra ajudavam como podiam
e a Sr.ª Rosa, que tinha uma cabrinha e algumas galinhas, ia vendendo leite e
ovos para poder alimentar-se e alimentar os filhos.
E nesse Natal aconteceu algo novo, algo
diferente.
Uns dias antes da noite de consoada, a
Violeta perguntou ao Nelo o que ia pedir ao Menino Jesus para deixar no
sapatinho. Ele ficou muito intrigado, pois nunca pedira nenhum presente a
Jesus, nem sabia que isso se fazia, além disso nem sequer tinha sapatos, só
tinha umas botas para levar à missa e umas chancas velhas.
Quando chegou a casa contou à mãe e à
Rosita o que a Violeta lhe disse.
Então, na noite de Natal, lá pôs as
botas na chaminé e as soquinhas da irmã e, já na cama, antes de dormir, pediu a
Jesus que lhe desse uma prendinha qualquer, só queria ter alguma coisinha
dentro da bota e dentro da soquinha da Rosita.
Mal acordou foi ver se tinha algum presente
e… na sua bota tinha um cartucho com alguns rebuçados e uma bola feita de
meias; na soquinha da Rosita tinha outro cartucho com rebuçados e uma boneca
também feita com uma meia velha e alguns trapos.
Eles ficaram tão felizes, mas tão
felizes com os presentes que, depois do almoço, foram brincar com a Violeta e
com ela repartiram os rebuçados, brincaram com a bola e a boneca de trapos,
juntamente com os brinquedos que esta também recebeu.
E, para que este dia jamais ficasse
esquecido, a Violeta ofereceu uma boneca de verdade à Rosita e pediu ao irmão
que desse ao Nelo o arco e a gancheta com o carrinho de linhas.
E foi assim que estes amigos viveram um
Natal na plenitude do AMOR!
Maria
La-Salete Sá