domingo, 19 de dezembro de 2021

ERA UMA VEZ… NO NATAL

 

Dezembro aproximava-se… e com ele, o Natal…

Violeta Maria parou um bocado suspensa nesse pensamento… Com o Natal a bailar na mente aproximou-se da janela, lançou o olhar em redor e…perdida na imensidão do horizonte, viajou no tempo… ao tempo em que a sua terra natal ainda não conhecia luz elétrica, ao tempo em que as ruas eram estradas de terra batida, caminhos estreitos e pedregosos ou carreiros pelos campos ou serranias…

Nessas alturas não havia tristeza, as crianças espalhavam risadas de alegria, as mulheres, atarefadas com a lida da casa e com os animais de capoeira, cantavam enquanto trabalhavam, os homens, aqueles a quem cabia o trabalho mais pesado assobiavam, por vezes também cantavam, como forma de esquecer o esforço ou enganar a pobreza. Sim, porque ali também vivia a pobreza…

E Violeta pensou nos seus amigos de infância. Na pureza, na simplicidade e no amor genuíno que sempre os unia, mesmo no meio das pequenas zangas. Então, na altura de Natal, iam pelos montes recolhendo musgo, pinhas, ramos de azevinho para fazerem o presépio na escola e enfeitarem a sala. Sala bonita, sala enfeitada, era linda de se ver!  E, no último dia de aulas antes das férias natalícias, junto ao presépio rezavam a Jesus, pedindo paz, saúde e ajuda para os mais necessitados, ao mesmo tempo que faziam promessa de bom comportamento.

Parou um bocado neste pensamento, neste reencontro de amigos e reviveu um Natal, aquele Natal que, mais do que um Natal foi uma grande lição de vida!

Tinha ela oito anos. Oriunda de uma família de lavradores, nunca lhe faltou comida, sempre tivera roupa e calçado e até tinha alguns brinquedos, mas… a família que vivia em frente, não sendo uma família numerosa, era muito pobre. Eram apenas três pessoas, o Nelo de oito anos, a Rosita de seis e a mãe, a Sr.ª Rosa, que ficara viúva pouco depois da Rosita nascer.

As pessoas da terra ajudavam como podiam e a Sr.ª Rosa, que tinha uma cabrinha e algumas galinhas, ia vendendo leite e ovos para poder alimentar-se e alimentar os filhos.

E nesse Natal aconteceu algo novo, algo diferente.

Uns dias antes da noite de consoada, a Violeta perguntou ao Nelo o que ia pedir ao Menino Jesus para deixar no sapatinho. Ele ficou muito intrigado, pois nunca pedira nenhum presente a Jesus, nem sabia que isso se fazia, além disso nem sequer tinha sapatos, só tinha umas botas para levar à missa e umas chancas velhas.

Quando chegou a casa contou à mãe e à Rosita o que a Violeta lhe disse.

Então, na noite de Natal, lá pôs as botas na chaminé e as soquinhas da irmã e, já na cama, antes de dormir, pediu a Jesus que lhe desse uma prendinha qualquer, só queria ter alguma coisinha dentro da bota e dentro da soquinha da Rosita.

Mal acordou foi ver se tinha algum presente e… na sua bota tinha um cartucho com alguns rebuçados e uma bola feita de meias; na soquinha da Rosita tinha outro cartucho com rebuçados e uma boneca também feita com uma meia velha e alguns trapos.

Eles ficaram tão felizes, mas tão felizes com os presentes que, depois do almoço, foram brincar com a Violeta e com ela repartiram os rebuçados, brincaram com a bola e a boneca de trapos, juntamente com os brinquedos que esta também recebeu.

E, para que este dia jamais ficasse esquecido, a Violeta ofereceu uma boneca de verdade à Rosita e pediu ao irmão que desse ao Nelo o arco e a gancheta com o carrinho de linhas.

E foi assim que estes amigos viveram um Natal na plenitude do AMOR!

                                                                                                   Maria La-Salete Sá

terça-feira, 9 de novembro de 2021

PORTO DE ABRIGO


Foste meu porto,

meu porto de abrigo,

minha enseada…

…ancoradouro seguro

de minha barca…

 

barca à deriva,

por ventos agitada,

abandonada,

perdida…

afundada e erguida

ao sabor das vagas

…descontroladas…

 

Foste porto,

foste marujo e timoneiro,

foste guia,

farol e faroleiro, 

…foste… quem me deu a mão

em tempos incertos,

sofridos,

perdidos

no deserto

da solidão…

 

 

… meu timoneiro,

…………. meu farol,

…………….. meu guia,

…………………meu amor…

 

De Maria La-Salete Sá (09/11/2021)

 

 

 


quinta-feira, 21 de outubro de 2021

ATERRAR NO PLANETA POESIA

Sou viajante,

mensageira de emoções…

percorri terras férteis de ilusões,

distribuí palavras

embrulhadas

em papel de ternura,

orbitei

entre a terra e a lua…

 

Mas…

a viagem perdeu o norte,

entrei em órbita incerta...

Vagueando atribulada,

minha nave ficou suspensa…

quase parada…

 

Sentindo a alma deserta,

vesti-a de esperança,

e confiante traçamos

novas rotas…,

  … rotas de mudança…

 

Fixei bem o percurso,

ativei a ignição

e a nave foguetão

reiniciou a viagem.

 

Viagem bem sucedida,

rumo à terra da magia...

E eu,

que sou viajante,

aterrei em segurança

no PLANETA DA POESIA..

 

Maria La-Salete Sá (21/10/2021)



  




sábado, 26 de junho de 2021

DIVAGAÇÕES DA ALMA

  

Minha alma divagou

no labirinto do silêncio…

pareceu-lhe escutar

um eco abafado

saído de um canto perdido

 

Parou…

Parou e ouviu… um grito surdo,

quase um sussurro…

que logo sumiu e logo voltou…

 

Intrigada ficou…

 

Olhou em redor… nada viu…

olhou-se,

suspirou… e descobriu…

que…

esse grito era seu…

 

Acolheu-o, afagou-o…

 

Era um grito de liberdade a querer voar…

 

Minha alma deixou-o sair.

Ele voou…  

 

Mais um pouco ela divagou…

e viu que…

… o silêncio

deixou de ter cantos perdidos…

 

É agora um silêncio de Luz e de Amor

nascido de um grito chamado Esperança.

 

Maria La-Salete Sá