Pressinto que me afundo de novo em incertezas...
Começa a desmoronar-se a estrutura do meu pedestal,
do pedestal onde me ergui
alta e inflexível,
dura que nem uma rocha...
O cimento armado
em que me alicercei
começa a diluir-se
no paradoxo deste sentir incongruente...
E, a pouco e pouco,
sinto-me reduzida a nada
no mundo das emoções.
Já não sou a mulher super-segura de si mesma,
a auto-suficiente,
sou a criança carente
perdida no abismo
em busca duma mão amiga,
dum carinho,dum afago...
Sou a fragilizada
na vulnerabilidade inconstante do ser...
A solidão dum mundo inteiro
pesa sobre os meus ombros
e uma asfixia crescente
desperta-me cada vez mais
a vontade de gritar contra o silêncio...
E ri-se de mim a lua! Lá fora... pequena e insignificante
no seu quarto crescente...,
dentes abertos num sorriso de desdém
como quem apregoa
a sua influência cíclica na vida de alguém!
Hoje esse alguém sou eu.
Sou eu que caí do astro-rei,
caí mais baixo do que o satélite mais ínfimo...
nem meteoro fui, apenas em areia me tornei...
...fina e frágil...
Mas não pposso permanecer assim!
Com areia (e cimento) se constroem torres e castelos,
Se erguem fortalezas,
Com areia (e cimento)
Se fabricam cidades, se fazem mundos.
Eu hei de voltar a crescer,
voltar a vencer,
voltar a ser!
Talvez amanhã entre de novo em derrocada,
mas preciso de força para erguer-me AGORA...
Cimento e lágrimas darão consistência de rocha
à areia que hoje sou.
Urge reconstruir-me, capacitar-me e convencer-me
que as negações às emoções primárias
não são mais do que idealizações
de pessoas fracas... insignificantes...
E nesta insignificância de mentira piedosa
reestruturo a fortificação,
restauro a fortaleza
do meu castelo de cristal...
... e enquanto não surgir outro temporal/emocional
Ficar-me-ei no meu pedestal.
De Maria La-Salete Sá
Maio de 1990