quinta-feira, 20 de setembro de 2012

REALIDADE OU FICÇÃO?

Quando se vive um amor
porque outro se acabou...
será realidade essa afeição?
Quando se pensa que findou
o amor que a gente tinha
seria ele verdadeiro ou não?

E nós, que queremos amor,
por sem amor não sabermos viver,
ao recriá-lo e ao senti-lo,
nós... seremos nós, ou invenção?

Terei sido eu que amei perdidamente,
ou apenas o meu querer amar
que transformou amor em ilusão?
Foi amor ou desamor
a dor sofrida que senti?
Foi ficção ou realidade
a vida intensa que vivi?

Nesta ausência da verdade,
haverá amor e saudade
na ficção da nossa vida?
Ou apenas a realidade
a contrariar a vontade
que, de tão real, é mentida?

De Maria La-Salete Sá

(05/04/1986)

domingo, 16 de setembro de 2012

" NUMA PRADARIA ENCONTRAM-SE DOIS CAVALOS"



O cavalo Roberto e a égua Carlota formavam um lindo casal. Desde a infância se tornaram amigos inseparáveis. Saltavam, brincavam e relinchavam no prado, faziam tropelias, brincavam com as margaridas do rancho Margarida, mas sempre com muito respeito por essas flores que nasciam e cresciam espontaneamente no prado. As suas brincadeiras com as flores resumiam-se a ver quem conseguia trotar ou galopar à volta do local onde elas despontavam sem as pisar, sem as magoar, sem as estragar. E não é que as flores entendiam a linguagem dos cavalos? Assim, sempre que um deles se aproximava mais perigosamente, elas abriam-se mais em luz e cor, como que a dizer-lhes «Cuidado! Nós estamos aqui!...». e, se por algum descuido, uma delas se despencava do caule, logo o Roberto a colhia com mil cuidados, a acariciava e oferecia, como prova de  amor e dedicação, à sua amiga Carlota (isto, porque ele sabia que a Carlota já não era apenas a potra amiga, mas algo mais, era a potra por quem se sentia apaixonado e sabia também, mesmo que ela ainda não o tivesse dito, que era correspondido nessa paixão.) Quando, como disse, a colhia para oferecer a Carlota, a doce margarida ficava feliz, até se esquecia da dor de ter sido cortada, pois sabia que iria mergulhar na água pura e enfeitar uma linda jarra na estrebaria, junto à cama da Carlota.
Passaram uns dois ou três anos nestas brincadeiras/namoro, até que resolveram casar. E, desse casamento, nasceram mais dois belos potros que agora, pequeninos, corriam e relinchavam alegres por esse prado onde os seus pais tanto namoraram, tanto se amaram e tanto se amam ainda. E é uma alegria ver com que doçura, todos os dias esses pais cavalos olham embebecidos os seus rebentos, Rebeca e Rocinante, sabendo que um dia as suas crias queridas serão cavalos importantes!

Nota: Nem Carlota, nem Roberto sabem que já viveram noutros tempos, nem sabem tampouco que o tempo pode ser parado e mudado, senão já sabiam que o seu potro Rocinante já foi um cavalo muito importante, já sabiam que este foi o cavalo de D. Quixote (aquele que dizem ter sido um lunático maluco, só que não foi… quem diz não sabe que ele foi um cavaleiro fabricante de sonhos e de magia!!!...). e, tal como o seu dono e ilustre cavaleiro, Rocinante também foi um cavalo que sonhou e desenhou poesia por onde passou!

E, nas brincadeiras pelo prado, Rocinante faz versos às flores,  desafia Rebeca com rimas… não será que teremos de volta o Rocinante poeta?

De Maria La-Salete Sá

sábado, 1 de setembro de 2012

LUA (soneto)


Oh! Que a lua estava maravilhosa
Ontem à noite quando fui dormir,
Enviava os seus raios a sorrir
Ficando assim muito mais amorosa.

Eis que vinha uma nuvem brincalhona
Intrometendo-se na sua frente,
Fazendo zangar tanta, tanta gente,
Mas logo aparecia, espertalhona.

E eu fui correr a minha cortina
Deixando que a luz me desse no rosto
parecendo ficar mais pequenina...

Sendo ainda maio, parecia agosto,
Tão romântico que estava o luar
Que refletia alegria em meu rosto!

De Maria La-Salete Sá

Escrito no Colégio de Nossa Senhora da Bonança, em finais da década de 60, início da de 70

SIMBIOSE

Deixemos que a química tome conta de nós,
que se opere a transformação, a simbiose
quando nossos corpos se tocam
e nossas bocas se beijam.
Deixemos que o magnetismo se desprenda
de mim para ti, de ti para mim
até que nossos pólos se encontrem.
Deixemos que o fluir energético
percorra nossos canais, nossos centros,
para que se estabeleça o circuito
capaz de nos fazer vibrar em uníssono.
Deixemos que nossas sensações
se tornem tão só nossas, tão únicas
que nos transportem ao imaginário
onde seja impossível saber
quais são as minhas,
quais são as tuas
de tão fundidas,
de tão partilhadas,
de tão vividas.

De Maria La-Salete Sá





....MEU SONHO GERMINA...


.......

Meu sonho germina na calma da noite, enche-me de luz no caminho da Vida. É um sonho de Amor, todo feito música e energia, silêncio e calma. Projeta-me com ele mundo fora e tudo transforma em Magia - sonho de Amor -. Tudo é Amor, tudo é Sonho dourado, de aroma sublime, porque a Terra é planeta de luz, é "estrela" cintilante, é habitáculo dos deuses, é o sonho consumado de um planeta de eleição.

Como Amo o meu sonho de Amor!

De Maria La-Salete Sá

In RAÍZES

...
Foto- mãos no piano

ASSIM SOU EU...

Eu não sou uma constante. A linha que rege a minha vida está constantemente a sofrer alterações.

Alterações?! Não! Variantes. Variante feitas de momentos, de emoções, de sentimentos, de fraquezas, de elevações.
Como toda a linha é um aglomerado infinito de pontos, também a minha linha é o complexo dos meus momentos de alteração. Eu não sou a constante, sou o todo de variantes. Talvez por isso, o ser que sou não consegue fazer da vida uma recta, mas sim uma estrada sinuosa onde cada curva traz uma emoção, cada desnível uma alteração, cada precipício uma aprendizagem...

Se eu fosse uma constante...
... não seria mais um protótipo...
... ou um pré-fabricado de arrumos...

Assim sou eu, a (Sa) Lete

De Maria La-Salete Sá


In RAÍZES


A VIDA É...

A vida é um rio caudaloso, ora sereno, ora tumultuoso, mas um rio onde a maravilha de Ser não pára, onde todos os momentos se encontram no grande momento da Unidade...
Minha vida é assim. Um constante renascer, às vezes um renascimento pessoal, em morte pessoal, outras em renascimento universal. Cada minuto é precioso, porque de minuto a minuto, de instante a instante, tudo se altera, tudo se modifica, tudo cresce, tudo acaba, tudo recomeça. E é neste acabar e recomeçar que reside o verdadeiro milagre da vida.
Porque há tanto caminho a percorrer, tanto caudal a crescer antes que entre no mar, é imperioso não parar, não adormecer, mas despertar, crescer e sonhar, ainda que em quedas a despenhar, para que o curso deste rio chamado VIDA seja mesmo um curso de Vida.
E assim sinto a vida em mutação. Há sufocos e dores, tais espasmos de parturiente, por entre sorrisos de esperança. Sinto essa mutação. Todos os dias são dias novos por muito iguais e por muito que aos demais se assemelhem. porque em cada um há uma nova alegria, um novo entusiasmo, uma forma mais plena de esperança... A esperança é a chave da transformação e... se já me sinto rica, amanhã serei milionária. Milionária de vivências, milionária de alegrias, milionária dos meus tesouros mais íntimos. Mas serei, sobretudo, milionária da força que me rege, da energia que partilho, que ganho, que distribuo desprendida de mim.

De Maria La-Salete Sá

in RAÍZES



OS AMIGOS


Os amigos são muito mais do que amigos,
são partículas de mim,
extensões do meu pensamento-ligação
na união, no confronto, na partilha, no amor,
na solidão.
Eles são EU em extensão...

E porque
na amizade não há barreiras,
"não há longe nem distância",
o meu EU em extensão
projecta-se neste universo imenso
tão individual, quanto dualista ou multi-facial

na cimentação (ir)racional
do querer uno e universal.

Eu sou. Tu és. Eles são.
Nós somos amigos na individualidade,
energias aglomeradas na universalidade.

De Maria La-Salete Sá

in "Fragmentos de um percurso interior#

«««««««NOTA: O texto está conforme o original, sem as normas do acordo ortográfico)««««««««««

PSICO-FILOSOFICAMENTE FALANDO


Formulei teorias de vida,
criei conceitos e formas,
fiz silogismos lógicos de vivência
e sorri à minha filosofia de futuro...
Estavam criadas todas as condições
para uma existência sem falhas,
onde o conceito da razão,
o conceito da moral,
o conceito do conhecimento
se enquadravam num todo uniformizado.
Só esqueci um pormenor,
(pormenor, aliás, assaz insignificante
para quem fez todos os cálculos
com prova real e em computador).
Esqueci uma parte da psicologia humana,
deixei passar em branco os graus de consciência
e as pressões sociais na vivência de cada um.
E ao colocar em prática o meu sistema filosófico
ruiu a filosofia que criei para a vida...,
porque tem três etapas diferenciadas
a minha consciência psicológica:
Se o consciente aceita a filosofia,
o inconsciente adormecido
traz ao subconsciente
toda a verdade recalcada pela pressão social,
todas as angústias e incertezas não admitidas,
todo um mundo onde
vida -razão e vida -sentimento
ora se confundem, ora se confrontam...
Pergunto agora:

-Criei filosofia de vida
numa vida psicológica
ou anulei conceitos de sabedoria
num psíquico conturbado?

(escrito em 15/05/1986)

De Maria La-Salete Sá

POEMA TRIPARTIDO

HOJE

Hoje... a Lete teve uma hora de desânimo...
...e chorou...
Hoje...a Lete interpretou à letra palavras soltas que ouviu...
...e estremeceu...
Hoje...a Lete pensou em coisas tristes...
...e sofreu...

Hoje... a Lete recordou que não é só...
...e sorriu...
Hoje...a Lete reparou que há vida...
...e viveu...

Hoje...
A Lete já é a Lete
Que sorri,
Que canta,
Que vive,
Enfim...a Lete que AMA!

ONTEM

Ontem – passado morto,
Ilusão desfeita,
Amargura sepultada...

Ontem – saudade feliz
De um Verão acabado
Cheio de sol e calor...

Ontem – alegria do mendigo
Recebendo esmola
De corações bons e serenos...

Ontem – começo de podridão,
De drogas e guerras
Que avassalam o mundo...

Ontem – sonhos de paz,
De fraternidade e união
Desta terra triste que se guerreia
Constantemente... desde...
Ontem...

Ontem...passado morto
Que ressuscita hora após hora
Para nos conduzir ao infortúnio...,
À miséria...

É passado...é ONTEM...,
Mas vive ainda...

É o ONTEM
De hoje,
De amanhã...
De sempre...

AMANHÃ

Amanhã será o ressurgir de um novo dia,
O desabrochar de nova flor,
O desfalecer de corações que já viveram...

AMANHÃ! Quanta esperança.
Quanta ânsia pela paz e alegria
Que...
Virá no amanhã... próximo
Remoto, inacessível...

Mas...AMANHÃ
Há uma vida para viver,
Um AMANHÃ para atingir,
Uma esperança para a VIDA!

Há um AMANHÃ...

De Maria La-Salete Sá

LETRAS MENTIROSAS

O pai abecedário sempre foi muito mandão. Tão mandão que todos os dias mandava, não só mandava, como ordenava às letras que não saíssem do seu lugar.
E elas, coitadinhas, lá ficavam, sempre à espera que o pai as juntasse, porque letras separadas eram tristes, não faziam sílabas, quanto mais palavras...E elas queriam FALAR!
Mas...havia algumas tão arrogantes, tão arrogantes, que até eram mentirosas, entre elas o C.
E foi esta mentirosa que consigo arrastou algumas vogais para a brincadeira no jardim, durante uns momentos de distração do pai alfabeto.
“Venham cá vogais...Eu quero três para brincar.”, chamou o C.
E o A,E,I,O,U brigaram entre si, pois todas queriam brincar. Então o C não teve outro remédio senão lançar os dados e tirar à sorte, tendo sido escolhidas o A, o O e o U, que, sem dar cavaco a ninguém, se escapuliram para a brincadeira.
O C deu a mão ao A, que muito pronto disse:” Nós estamos CÁ!”
Mas o C, ao colocar a cedilha logo replicou:” Mas eu posso usar um rabinho, não vês?”
“E para quê?” – pergunta o A.
“Assim brincamos às malandrices e eu sou um Ç (S) e juntos dizemos ÇA.
“Ah!...Mas assim és um mentiroso!
“Não me importo. E queres ver o que faço com o U?”
“Quero.”- responde o A”
“Vem cá U, dá-me a mão. E olha, QUE FEIO!, somos um CU.
Então, C de mão dada com A é CA, Ç de mão dada com A é ÇA.
E diz o U:”Mas falta o O.
“Estou aqui! Também vou brincar às mentiras! Às vezes também sou U como TU.”
“Não faz mal”, – diz o U – brinquemos ao Carnaval e ninguém leva a mal!”
Reaparece o C – “Anda cá, O e dá-me a tua mão. Nós somos CO... e se formos dois... Seremos COCÓ?
“ Que porcaria!”- diz o Ç – “Vem comigo e ficamos um ÇO (SÓ)”
A meio desta brincadeira ouve-se o vozeirão do pai alfabeto:
“Onde se meteram as letras que faltam aqui?! Ah!, se as apanho...”
E as letras fogem a correr, atrapalhadas, misturadas, mas a gritar:
CA ÇA
CO ÇO
CU ÇU

De Maria La-Salete Sá


O TEU OLHAR

É assim o teu olhar:
sol escondido,
nuvem a espreitar,
lua cheia,
estrela polar!
Sorri o amanhecer,
goteja o acordar,
espelha o anoitecer,
norteia o avançar...

É assim o teu olhar!



(05/07/86 22h 49m)

De Maria La-Salete Sá


PALAVRA AMOR

Chamavas-te multidão,
ser solitário que não consegui descobrir.
Chamavas-te ilusão,
realidade que não sei esquecer...
Chamas-te presença
nesta ausência de ti em que estou.
Estou. Não estou. Tu estás.
Na rua, no bar, na festa...
Não te vejo. Sinto-te.
No ar. no perfume, no frio, no calor...
És. No mundo onde circulo
a palavra AMOR.

Por isso... ser solitário, multidão,
realidade, ilusão,
ausência, presença,
se, não ser,
estar, não estar,
mundo para amar...

Só tu em meu coração.


(09/12/1987 01h 36m)

De Maria La-Salete Sá


SOU FELIZ

Como casca de noz
vogando
nas ondas do mar,
feliz, contente
eu vivo a cantar.
Como pássaro alegre
voando
livre no ar
também sou assim
feliz,
por saber amar.
como fada luzente
cantando
pelo mundo além
quero ser alegre,
ajudar alguém.
Nas horas boas ou más,
em todo o dia,
tentarei vivê-las
e oferecê-las
com alegria.
Assim alegre
quero viver
contente
como a gente
que quer Ser e Crescer.

De Maria La-Salete Sá
(escrito em 15/10/1968, Colégio de Nossa Senhora da Bonança)

A ALGUÉM QUE JÁ PARTIU

Como eras boa avozinha!
Tenho no pensamento a tua imagem,
Essa bendita miragem
Que julgava ser só minha!

Deus pediu-te, tu aceitaste
O caminho que te estava traçado...
Como eu queria que tivesses ficado,
Mas sempre comigo ficaste.

Partiste, é certo... Acredito que sim,
Mas não posso deixar de te lembrar,
Embora tenhas ido, continuo a amar
Alguém que já fez parte de mim.

Oh! Se fosse hoje, como seria diferente...
De maneira alguma te arreliaria,
Beijar-te.ia e sempre diria
O que só agora minha alma compreende.

Como eras paciente, avozinha!
Quanto carinho tinha a tua voz!
Tenho a certeza de que não há avós
Mais carinhosas do que a minha!

Agora, lá no Céu, reza por nós,
Pede a Deus pela humanidade,
Que hoje tem tanta falsidade
E que haja, como tu, mais avós.

Lembro-me das tuas historinhas,
Das de fadas, que gostava de ouvir,
De todas que ouvia a sorrir
E pedia: "Só mais uma, avozinha..."

Oh! Não calculava o bem que eras
E só agora posso compreender,
Hoje... que não te posso ter,
Me lembro quão boa tu eras!

Com saudade eu peço perdão
A esse alguém que já partiu,
Alguém que nunca mais se viu,
Mas que ficou no meu coração.

(A minha avó paterna deixou-nos em Abril de 1974, quando eu tinha 11 anos, escrevi o poema em 1976.)

De Maria La-Salete Sá