sexta-feira, 31 de agosto de 2012

RAZÃO IRRACIONAL



Não perguntes ao coração
a razão
de amar tão loucamente...
Não procures justificação
nem senão,
aceita tão somente
esta irracionalidade
premente
que se chama querer
sem tão pouco saber o porquê...

Pois quem ama
sabe e sente apenas
que chorar por amor,
sorrir por amor
é um contra senso inebriante
que nos projeta a cada instante
para uma felicidade sem fim
ou para uma dor assim
que faz de um momento uma eternidade,
ou da vida um momento...

O amor é, em suma, uma razão irracional
de viver e de querer.

De Maria La-Salete Sá


HOJE



Estou perdida de mim.
Perdida do Ser que Sou,
Ausente de quem não sou.
Neste espaço e neste tempo
Não consigo encontrar-me nem definir-me...
Não sei quem sou,
Não sei o que sou...
Apenas sei que estou perdida na bruma
Sem saber onde procurar o rumo.
Quero ir para Casa!
Quero descobrir o meu Lar!
Tenho saudades da minha família cósmica,
Uma família que apenas reconheço
Em vislumbres de memórias muito remotas
E escondidas da minha razão consciente.
Sei que este não é o meu lugar,
Mas é neste lugar e neste tempo
Que se cumpre o meu contrato.
Mas que contrato? - Pergunto-me.
Se eu soubesse!
Ah! Se eu soubesse ou pudesse ler todas as suas cláusulas
Porventura sentir-me-ia mais confiante,
Menos perdida....

Mas o que sei é que não sei...
Não sei mesmo nada de mim...
Bloqueou-se a porta do saber,
Os meus irmãos cósmicos silenciaram-se
E deixaram-me abandonada neste espaço ao qual não pertenço...

À noite olho o firmamento
Na esperança de encontrar o rumo
E todas as estrelas me sorriem, mas nenhuma me orienta.
E o Universo sabe que ainda não sei caminhar sozinha.

Não há nem um sinal de conflito,
O que também é intrigante,
Pois se houvesse então teria algo a que me agarrar,
Poderia assim orientar algum tipo de acção,
Poderia encontrar um carreiro nesta bruma...
Mas não... estou completamente só e perdida
Do que sou,
De quem sou,
De onde sou
E para o que sou e estou...

De Maria La-Salete Sá

SENHORA DAS ÁGUAS

Ah!, Senhora das Águas, deusa minha ,
sereia deste mar que é nosso!
Vou à praia, fico a olhar,
A olhar, a olhar… e a sonhar
Que me abraças e me embalas…
Sou ondina, sou ninfa
Canto e danço sem parar.
E tu, minha rainha,
Minha mãe, senhora minha
Olhas-me com tanto amor
E do meu bouqué de rosas brancas
Vou lançando flor a flor,
Singela homenagem do meu amor.


De Maria La-Salete Sá



MINHA ILUSÃO...


Ah! Minha ilusão!
Miragem do meu silêncio...
Procura escombros,
matagais,
oceanos profundos,
horizontes inatingíveis,
esconde-te...

Hoje só quero a realidade.


(aí por finais de 80, início de 90)

De Maria La-Salete Sá




ANGÚSTIAS

Porque me atormentam angústias
que fazem tremer de descontentamento?
Porque não me respondem as expectativas do silêncio?
Porque busco algo ou alguém
se não sei o que quero
e se me procuro?
Porque me sinto um caos
se não dei conta da derrocada?
Onde estou?
O que procuro?

Ah! Angústia que me matas,
se te afastasses
ou me reencontrasses...,

que bom seria viver de novo.

De Maria La-Salete Sá

TUDO O QUE SOU

Sou uma garota irrequieta
Medrosa,
Alegre...
Chorosa...
Feliz
E desditosa...

Sou uma criança
Que adora a solidão...
Sou uma senhora
Que gosta do barulho
E da multidão...

Sou adolescente
Que vive a sonhar...
Sou adulta
Que com bonecas
Adora brincar...

Sou bebé risonho
Que já quer falar,
Sou mulher crescida
Querendo contar
O que tem de calar...

Sou eu mesmo assim
Que vivo a lutar...
Sou sopro de brisa
Com ânsia infinita
De a todos amar.

De Maria La-Salete Sá
(Escrito em 1970, no Colégio de Nossa Senhora da Bonança, em V.N. de Gaia)
Na foto, eu com 10 anos, 1º BI


ANO LECTIVO DE 1974/75



Acabei o meu curso em Julho de 1974 e a minha primeira escola foi precisamente na minha aldeia. Os alunos eram poucos, 12 no total, divididos pelas 4 classes, 3 na primeira, 4 na segunda, 2 na terceira e 3 na quarta. "Criança crescida" no meio de crianças pequenas, sempre procurei manter um bom relacionamento com os alunos. Sempre que podia ensinava de forma lúdica, ria e brincava com eles. E, como não podia deixar de ser, também participava nas brincadeiras de recreio. Um belo dia, 5 de Fevereiro de 1975, jogava com eles ao mata.
O Alberto, aluno da terceira classe e da minha equipa, estava a fazer batota. Eu olhei para ele e disse:
"Vou-te bater com a bola no rabo para deixares de fazer batota!"
Ele riu-se e, em jeito de malandrice, encolheu-se. Mas, mal eu tinha levantado um pé reparei que uma silva, que tinha descido pelo muro, estava presa nas calças do Alberto e parei para que ela não o picasse. Não sei como fiz, o meu pé esquerdo resvalou, eu caí sobre ele e parti a tíbia e o perónio junto ao tornozelo. Escusado será dizer que ficaram muito aflitos, embora de início tivessem achado muita piada por verem a professora estatelada no chão do recreio.
No dia seguinte fui operada, mas só um mês mais tarde é que pude ir à escola. Contudo, como não havia professor para me substituir, fui dando aulas em casa, mesmo estando doente, com um quadro improvisado numa cartolina preta e os alunos divididos em grupos, duas classes de manhã e duas de tarde..
E hoje, quando encontro algum desses alunos (já todos casados, uma aluna já com um neto!) eles sempre relembram este episódio e falam com saudade e ternura dos tempos em que os ajudei a crescer e com eles cresci.

De Maria La-Salete Sá

E PORQUE ACREDITO...

E porque acredito que a Terra será planeta de luz,
Porque acredito que o Cristo ressurgirá
Fonte de Luz - Sabedoria – Amor,
E porque acredito que em cada ser Ele já está,
Porque acredito que todos somos irmãos,
Átomos emanados da mesma fonte Universal…
E porque acredito nas potencialidades energéticas
De cada homem, de cada mulher,
De cada criança, animal ou planta…
E porque acredito na revolução da Consciência
Individual e planetária
Que fará de nós Mensageiros e canais de Paz…
É por isso que vivo a Alegria e a Felicidade de Ser,
De manter acesa a chama
Da centelha divina que me anima
Na luta, na procura, na doação
(quantas vezes pequena e irrisória!),
Na coragem e no desânimo,
Na integração e na solidão…
Mas acredito!
Mesmo quando as trevas me envolvem,
Quando o labirinto da solidão
Parece cortar-me todos os caminhos,
Acredito.
E olho para dentro de mim, para fora de mim,
Perdida, parada no tempo sem tempo,
No espaço onde me projectar,
Mas acredito.
Acredito na força do meu grito, da minha súplica.
E busco a Luz. A Luz do Amor
Que está lá. Está cá. Mesmo no fundo do poço,
Mesmo no labirinto dos pensamentos
Confusos, contraditórios.
Mesmo lá ela brilha.
E acredito! Acredito na mudança,
Na destruição do Mundo Velho
(do meu mundo, do nosso mundo),
Na queda do Império da Ilusão,
No ressurgimento, na reconstrução
Da terra prometida, da Nova Jerusalém.
E sofro. Porque o tempo urge,
Porque o caminho é longo e vacilantes os meus passos…
Mas eu quero!
E tão-somente porque quero, porque acredito
Nessa força que nos conduz à libertação,
Que Vivo, que Amo, que Sou…
Tropeço e caio, choro e sangro,
Mas sorrio,
Mas espero,
Mas vou

Em busca da Luz

De Maria La-Salete Sá

UM OLHAR... MIL SORRISOS

Bastou um simples olhar
E logo o coração se abriu em ternuras!
Meu menino de oiro, meu mestre cristalino
Chegou!
Tão lindo, tão doce,
A imagem plena da suavidade,
Da sabedoria ancestral
Numa aparente fragilidade
De criança recém nascida.
Fixei meus olhos nessa imagem.
Mil sorrisos iluminaram minha alma,
Sorrisos de felicidade
Encheram meu rosto, meus olhos,
Porque todo o brilho que me iluminava
Não era senão a alegria de ser avó
Do menino mais lindo e mais doce do mundo!


De Maria La-Salete Sá

SEGUNDA CASA DA ÁRVORE


Esta é a segunda casa da árvore. E devem estar a perguntar-se «porquê outra casa?» É que, quando regressei, de madrugada, depois de ter parado na Lua e passeado pelas Estrelas, encontrei à porta da outra casa os meus amigos elfos , duendes e os gnomos para me receber. Claro que não tinha já espaço para os alojar, por isso tive que construir outra casa. E como eles já foram de férias, a casa está vazia, convido-vos a dormir nela, bem próximo das estrelas... A casa é vossa, tenham uma BOA NOITE., eu já lá estou, aliás, vocês são elementos do meu sonho, não é verdade?


De Maria La-Salete Sá

PALAVRAS FEITAS DE NADA


PALAVRAS FEITAS DE NADA

Apetece-me escrever palavras feitas de nada,
Palavras inventadas,
Palavras inexistentes,
Apenas palavras…
Mas todas elas, mesmo inexistentes…
Existem…
Existem porque as criei,
Porque as inventei…
Já não são feitas de nada,
São as palavras feitas de letras,
De letras carregadas de emoções,
São palavras sem palavras,
Palavras desordenadas,
Rabiscadas ao acaso com a ponta dos meus dedos!...
Desordenadas
E atrapalhadas.

Estão tristes as palavras
Que transportam emoções,
Tristes de tão caladas,
Por se sentirem desordenadas
E serem indefinições…

Que pena tenho destas palavras!
Vou pegar nelas, ordená-las,
Afagá-las
Dar-lhes forma e pensamento,
Defini-las, juntá-las…

Já são palavras ordenadas
Já dizem sentimentos,
Já são definições,
Já gritam aos quatro ventos
Que palavras feitas de nada
São uma sensaboria,
Quase uma tirania
Que também não leva a nada…
Mas palavras com sentido,
Com amor e emoção,
São palavras de magia,
São sorrisos,
São flores,
São orvalhos refrescantes,
São…
Palavras feitas palavras!

24 de agosto de 2012 (23h50m)

De Maria La-Salete Sá

NÃO HÁ

Não há beco que esconda meus sonhos,
não há multidão que cale meus silêncios,
não há mar que lave meus temores,
não há universo que abarque meu amor,
não há nada onde caiba a minha angústia,
não há nada onde abafe a felicidade,
não há nada...

Só ser e não ser feliz,
só ser e não ser infeliz
numa confusão de sentimentos loucos
em contradição...


De Maria La-Salete Sá

OUSADIA

Pensei-te meu,
pensei-me tua,
recriei-te na imaginação
repleto de fantasias amorosas

e corei de indignação
ante o olhar dos outros
que não nos puderam ver...

Nós não éramos senão brisa de sonho
ou o meu olhar perdido no espaço vazio...

De Maria La-Salete Sá

INDEFINIÇÕES

1
Porque se escondem meus sonhos
em labirintos de medo,
há que amordaçá-los,
se preciso, estrangulá-los,
pois não cabem no segredo...

2
Se meu coração explode de amor
e meus sentimentos anseiam por ti,
no meu pensamento surge a revolta
emaranhada
num mundo carente...


(09/05/86)

De Maria La-Salete Sá

AMO

AMO! AMO! AMO!
A quem? O quê? - Não sei!
apenas Amo.
Tudo e todos - Um só,
a vida, o mundo, as plantas, os animais,
o bosque, o prado, o deserto, o oásis,
o rio, o mar.
Amo! O céu, a lua, as estrelas,
o sol!

AMO! Num amor feito energia,
num abraço total
imenso, infinito,
entrega Universal!

(Junho de 1991, seminário de Yoga)
A abrir "Fragmentos de um percurso interior

De Maria La-Salete Sá

INSÓLITO

Há tantos episódios bizarros na minha vida que uma sobrinha me compara, muitas vezes, ao Mr. Bean (é claro que não faço um “ar tão aparvalhado” quanto ele, penso!!!...), e o que se segue é o relato de um funeral, algo insólito. (Não vou referir nomes nem localidades para não correr o risco de poder ferir sensibilidades.)

Era o funeral do pai de uma amiga, que, por sua vez, era sobrinho de outra amiga. Partia de uma cidade para outra e, como em todos os funerais, encontramo-nos na Igreja. Como a tia do defunto não tinha carro e o funeral seguia para uma cidade a mais de 30km de distância, ela viajou comigo. Assim eu não faria a viagem sozinha e ela estava à vontade por me acompanhar, já que éramos (e somos) muito amigas.
Mas logo me deparei com dois pequenos problemas: o meu carro estava com pouco combustível e eu não sabia como ir para o cemitério onde o morto ia ser enterrado. Então, e para não haver confusões, perguntei à filha do defunto qual a rota que seguiriam, para que eu pudesse meter gasolina e apanhar o cortejo junto das bombas. Combinamos tudo certinho, eles iam pela rua da bomba BP e eu entraria lá no cortejo. Seguimos logo para as bombas, enchi o depósito e esperamos… esperamos… esperamos… E nada de cortejo fúnebre. Bem, um pouco a medo, “às escuras” quanto ao caminho, não esperamos mais e seguimos, sempre com a esperança de encontrarmos o funeral, mas nada!
Já muito perto da outra cidade, sem saber qual a estrada de entrada, resolvi virar logo na primeira placa indicativa da cidade. Logo que pude perguntei onde era o cemitério. Seguimos as indicações e, fora do cemitério, estavam dois funerais para entrar, mas nenhum parecia ser o “do nosso morto”. Um tanto ou quanto acabrunhada dirigi-me a um cavalheiro que estava junto dos portões e perguntei:
-Pode- me dizer, por favor, se veio ou se ainda vem um funeral de fora da cidade, de um senhor que foi militar?
-Não, minhas senhoras, não veio nem vem, talvez seja para o outro cemitério do outro lado da cidade.
-E fica muito longe? Terei lugar de estacionamento?
- Não é muito longe, podem ir a pé.
E lá nos indicou o caminho, só que não conseguimos orientar-nos nessa cidade. Já tínhamos andado quase meia hora e nade de cemitério. Na nossa direção vinha um grupo de estudantes e voltamos a perguntar onde era o cemitério. Uma menina muito simpática disse-nos.
- Estão a ver aquelas árvores ali? O cemitério fica no quarteirão logo a seguir.
Ufa! Que alívio, pensamos nós. E lá fomos ao dito cemitério. Quando entramos não havia ninguém a não ser o coveiro a tapar uma sepultura. Fomos ter com ele e, antes que pudéssemos dizer alguma coisa, ele levantou-se, olhou para nós e disse com um ar muito espantado:
-As senhoras outra vez aqui?!
E responde a minha amiga com um ar muito contristado:
-Pois, e o pior é que o morto era meu sobrinho!...
Com imensa paciência o senhor voltou a explicar-nos onde ficava o outro cemitério, mas lá já fomos de carro, pois o dia declinava. Escusado será dizer que, quando encontramos o cemitério, já estava fechado e as pessoas já tinham todas regressado a casa.
Embora o dia não fosse propriamente um dia de alegria, fizemos a viagem de regresso a casa sempre a rir das nossas “trocas e baldrocas”. Ainda não tínhamos chegado a filha do defunto estava a telefonar, preocupada, com receio que nos tivesse acontecido alguma coisa e acabou por nos dizer que a Agência Funerária alterara a rota por causa do tráfego, mas que julgava que nós sabíamos.

De Maria La-Salete Sá

RAZÃO DE SER

Hoje sou,
ontem fui, amanhã serei,
não o ser com razão,
mas a dona da razão
nesta existência sem limites.

Não parto à procura de nada,
mas sigo na busca de mim
e ao questionar-me porque sou assim
encontro resposta na vida.
Sou nada mais do que a semente
que fiz germinar,
o continuar
do que ficou por acabar
no meu ciclo existencial.
Sou o infinito.
O passado, o presente, o futuro,
consciência e imaginação,
sou prefácio e projeção,
sou ser
inteligente e racional,
ignorante e imortal. Sou.

E tão somente por isso,
ser assim um contra-senso,
não há espaço nem tempo
capaz de estagnar
este fluxo de Vida que me anima...

In "Fragmentos de um percurso interior"

De Maria La-Salete Sá

RECORDAR É VIVER

Embora, nessa altura eu não tivesse mais do que 4 ou 5 anos, recordo esta cena com muita clareza.
Era tempo de vindimas e eu estava em casa da minha avó materna. No quinteiro, junto à nora de tirar a água do poço estava uma pipa cheia de água para ser lavada, pois era altura das vindimas. (Não sei se "quinteiro" terá o mesmo significado em todo o lado, mas aqui o quinteiro é um espaço em frente da casa coberto de mato de onde depois se tira estrume para os campos). Como disse estava lá a pipa, com o orifício tapado com uma pequena rolha de madeira, a que chamavam "piche" ou "espiche".
A avó tinha acabado de levantar a mesa do almoço e eu saí para quinteiro brincar. Mas aquela pipa, cheiinha de água e num dia de calor como estava, parecia dizer-me:
"Tira o espiche, Lete, olha que a água é fresquinha, podes molhar as mãos, molhar a cara, podes brincar."
E eu ouvi a "voz da pipa", oh!, se ouvi! E vai daí, tira espiche, mete espiche, borrifa a cara, borrifa a mão, era só ver a minha alegria a tapar e a destapar a pipa!
Mas... e há sempre um "mas", a avó veio à porta, viu e ralhou:
"Pára com isso, Lete, deixa estar o espiche na pipa, senão apanhas uma sapatada."
Mal ouvi o recado, pus o espiche na pipa e fui para o jardim, mas sempre a controlar a avó, claro está.
Mal ela reentrou na cozinha, lá vai outra vez a Lete brincar com o espiche, só que desta vez a avó não ficou pela ameaça, a avó saiu da cozinha de mão em riste e a Lete levou uma palmada no traseiro.
Mais ferida na sensibilidade do que propriamente na carne fui sentar-me nas escadas a choramingar.
Ao ouvir o "meu triste lamento" a avó veio à porta da cozinha e perguntou:
"O que foi, Lete? O que tens?"
E a Lete logo respondeu, dona e senhora de toda a razão:
"A avozinha bem sabe que nas meninas pequeninas nunca se bate!"

De Maria La-Salete Sá

PSIU

Vamos morrer para o mundo
num instante...
E neste momento de prelúdio
que antecede o despertar
quais serão os nossos anseios?

««««

Nostálgica
é a noite que me despe.

como será o amanhecer?


De Maria La-Salete Sá

TEMPOS...

No tempo em que eu era velhinha,
vestida de veludos e brocados,
toucado bem alto,
cabelo ripado,
pensava que era bela!

No tempo em que eu era adulta,
quarentona,
matrona,
de cabelo bem frisado,
pensava que era senhora!

No tempo em que eu era jovem,
alegre e gaiteira,
mini saia
perna à mostra
pensava que era bonita!

E agora que sou criança,
idosa com sessenta
de cabelos matizados
entre castanhos e cinzentos,
sei que sou FELIZ!

De Maria La-Salete Sá

O SONHO MAIS LINDO!...

Tive um sonho lindo, talvez o sonho mais lindo de todos os sonhos lindos!
Eu era a Primavera. Primavera aberta a mil sorrisos, uma estação de encantar. E, sendo Primavera, olhava maravilhada para a beleza das flores que eu mesma fizera germinar. Mas Primavera sem Anjos, Primavera sem Fadas nem sequer se podia chamar de Primavera. Então, e ao reparar num ninho sem passarinho, mas com um ovo muito branquinho, pensei de imediato fazê-lo eclodir. E, se bem o pensei, melhor o fiz, pois que, em vez de um passarinho, fiz que dele nascesse uma fada, melhor dizendo, uma fada-anjo. Que linda que ela era! E no meu coração primaveril brotou, por esse ser tão especial e tão único, uma ternura imensa. Quedei-me a amá-lo em silêncios de alegria. E, do fundo deste silêncio começou a crescer, vinda não sei de onde, uma suave melodia. Deixei que me envolvesse e a música ia-se ampliando, ampliando, ampliando… Olhei em redor e, qual não foi o meu espanto, ao ver que, em frente ao ninho, empoleirado num ramo, estava o mais lindo pássaro que alguma fora criado. Ele era o artista, o instrumento, a orquestra que tocava essa melodia! E, no momento em que o olhei e amei como se também ele fora minha criação, toda a natureza se abriu em MIL SORRISOS e cantou a canção da Primavera!

De Maria La-Salete Sá


QUANDO O SOL SE ESCONDER

Acordei de madrugada,
Fui à rua ver a lua,
Quedei-me maravilhada
Com a sua formosura!

Não chegara ainda o dia,
Já a aurora despontava
E era tal a harmonia
Que à minha alma chegava!


Nessa paz parou o tempo,
Dancei nas ondas do mar
Saltando nas asas do vento,
Com ele voei sem parar!


Passei a manhã assim
Neste sonho de tudo ser
E só voltarei a mim
Quando o sol se esconder.

De Maria La-Salete Sá


NA CORRENTEZA DA VIDA




Na correnteza da vida vivi
Encontros e desencontros,
Encantos e desencantos,
Alegrias e tristezas…

Na correnteza da vida descobri
Que encontros e desencontros,
Encantos e desencantos,
Alegrias e tristezas
São os grãos que semeei
E os frutos que colhi.

Na correnteza da vida aprendi
Que a vida só é vida
Se houver no seu correr
Encontros e desencontros,
Encantos e desencantos,
Alegrias e tristezas…

… Para que a vida ganhe sentido,
Para que se aprenda a viver
E não apenas a passar-lhe ao lado!

De Maria La-Salete Sá

DESPERTEI DE MAU HUMOR...




Cansada, ensonada, entrei na cama,
Da cama entrei no sono,
Do sono entrei no sonho…
Sonho lindo, sonho mágico!

Era um jardim de mil encantos,
Onde seres etéreos passeavam,


Anjos e fadas brincavam,
Silfos esvoaçavam,
E velhos anões confraternizavam
Enquanto, à roda da mesa, jantavam.


Dei comigo no jardim,
Também etérea e alada,
Esvoaçava, corria, brincava…
Não tinha o meu corpo, mas era eu,
Tinha asas e era fada,
Orelhas em bico, fui duende,
Entrei no lago, fui ninfa…
Que coisa mais linda de ser!
Que coisa mais linda de sentir!
Que coisa mais linda de viver!

E nesta beleza de ser,
De sentir,
De viver…

Eis que toca o despertador…
… e acordei de mau humor…


NÃO HÁ DIREITO TIRAR UMA CRIANÇA DE DENTRO DE UM SONHO TÃO LINDO!


De Maria La-Salete Sá