Olhos
voltados para dentro,
olhos
mortiços,
num rosto
feito de indefinições,
indefinições
de muitos anos,
indefinições
de mulher idosa…
E…
da boca dessa
mulher
soltou-se um
grito de negação…
mesmo
sentindo-se mal,
mesmo afirmando
que viajava
para ir ao
hospital
essa mulher…
- que até viajava
em direção contrária…-
recusava-se a
sair…
O que haveria
por detrás desse rosto,
por detrás desse
ser sofredor,
que,
recusou ajuda
de quem se ofereceu para a acompanhar,
que recusou a
ajuda da equipe de emergência médica prontamente solicitada e que já se encontrava
junto ao cais???
Que gritos de
revolta ou de dor seriam aqueles que retrataram tanta angústia???
Que gritos
seriam os que saíram dessa boca???
O que estaria
por detrás de tal e tanta desorientação???
Foi a dor que
não senti,
foi a dor que
não vivi…, mas foi a dor que me…
doeu…
doeu…
doeu…
porque… mesmo
não sendo minha…
pertenceu-me…
De Maria
La-Salete Sá
(escrito em
07/01/2015, depois de ver a aflição, a confusão e o medo estampados no rosto de
uma velhinha que viajava no mesmo metro que eu, com dificuldade respiratória e
outros sintomas de quem estava com sérios problemas de saúde e se recusava a
sair para ser assistida.)
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