Há tantos episódios bizarros na minha vida que uma sobrinha me compara, muitas vezes, ao Mr. Bean (é claro que não faço um “ar tão aparvalhado” quanto ele, penso!!!...), e o que se segue é o relato de um funeral, algo insólito. (Não vou referir nomes nem localidades para não correr o risco de poder ferir sensibilidades.)
Era o funeral do pai de uma amiga, que, por sua vez, era sobrinho de outra amiga. Partia de uma cidade para outra e, como em todos os funerais, encontramo-nos na Igreja. Como a tia do defunto não tinha carro e o funeral seguia para uma cidade a mais de 30km de distância, ela viajou comigo. Assim eu não faria a viagem sozinha e ela estava à vontade por me acompanhar, já que éramos (e somos) muito amigas.
Mas logo me deparei com dois pequenos problemas: o meu carro estava com pouco combustível e eu não sabia como ir para o cemitério onde o morto ia ser enterrado. Então, e para não haver confusões, perguntei à filha do defunto qual a rota que seguiriam, para que eu pudesse meter gasolina e apanhar o cortejo junto das bombas. Combinamos tudo certinho, eles iam pela rua da bomba BP e eu entraria lá no cortejo. Seguimos logo para as bombas, enchi o depósito e esperamos… esperamos… esperamos… E nada de cortejo fúnebre. Bem, um pouco a medo, “às escuras” quanto ao caminho, não esperamos mais e seguimos, sempre com a esperança de encontrarmos o funeral, mas nada!
Já muito perto da outra cidade, sem saber qual a estrada de entrada, resolvi virar logo na primeira placa indicativa da cidade. Logo que pude perguntei onde era o cemitério. Seguimos as indicações e, fora do cemitério, estavam dois funerais para entrar, mas nenhum parecia ser o “do nosso morto”. Um tanto ou quanto acabrunhada dirigi-me a um cavalheiro que estava junto dos portões e perguntei:
-Pode- me dizer, por favor, se veio ou se ainda vem um funeral de fora da cidade, de um senhor que foi militar?
-Não, minhas senhoras, não veio nem vem, talvez seja para o outro cemitério do outro lado da cidade.
-E fica muito longe? Terei lugar de estacionamento?
- Não é muito longe, podem ir a pé.
E lá nos indicou o caminho, só que não conseguimos orientar-nos nessa cidade. Já tínhamos andado quase meia hora e nade de cemitério. Na nossa direção vinha um grupo de estudantes e voltamos a perguntar onde era o cemitério. Uma menina muito simpática disse-nos.
- Estão a ver aquelas árvores ali? O cemitério fica no quarteirão logo a seguir.
Ufa! Que alívio, pensamos nós. E lá fomos ao dito cemitério. Quando entramos não havia ninguém a não ser o coveiro a tapar uma sepultura. Fomos ter com ele e, antes que pudéssemos dizer alguma coisa, ele levantou-se, olhou para nós e disse com um ar muito espantado:
-As senhoras outra vez aqui?!
E responde a minha amiga com um ar muito contristado:
-Pois, e o pior é que o morto era meu sobrinho!...
Com imensa paciência o senhor voltou a explicar-nos onde ficava o outro cemitério, mas lá já fomos de carro, pois o dia declinava. Escusado será dizer que, quando encontramos o cemitério, já estava fechado e as pessoas já tinham todas regressado a casa.
Embora o dia não fosse propriamente um dia de alegria, fizemos a viagem de regresso a casa sempre a rir das nossas “trocas e baldrocas”. Ainda não tínhamos chegado a filha do defunto estava a telefonar, preocupada, com receio que nos tivesse acontecido alguma coisa e acabou por nos dizer que a Agência Funerária alterara a rota por causa do tráfego, mas que julgava que nós sabíamos.
De Maria La-Salete Sá
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