sexta-feira, 31 de agosto de 2012

INSÓLITO

Há tantos episódios bizarros na minha vida que uma sobrinha me compara, muitas vezes, ao Mr. Bean (é claro que não faço um “ar tão aparvalhado” quanto ele, penso!!!...), e o que se segue é o relato de um funeral, algo insólito. (Não vou referir nomes nem localidades para não correr o risco de poder ferir sensibilidades.)

Era o funeral do pai de uma amiga, que, por sua vez, era sobrinho de outra amiga. Partia de uma cidade para outra e, como em todos os funerais, encontramo-nos na Igreja. Como a tia do defunto não tinha carro e o funeral seguia para uma cidade a mais de 30km de distância, ela viajou comigo. Assim eu não faria a viagem sozinha e ela estava à vontade por me acompanhar, já que éramos (e somos) muito amigas.
Mas logo me deparei com dois pequenos problemas: o meu carro estava com pouco combustível e eu não sabia como ir para o cemitério onde o morto ia ser enterrado. Então, e para não haver confusões, perguntei à filha do defunto qual a rota que seguiriam, para que eu pudesse meter gasolina e apanhar o cortejo junto das bombas. Combinamos tudo certinho, eles iam pela rua da bomba BP e eu entraria lá no cortejo. Seguimos logo para as bombas, enchi o depósito e esperamos… esperamos… esperamos… E nada de cortejo fúnebre. Bem, um pouco a medo, “às escuras” quanto ao caminho, não esperamos mais e seguimos, sempre com a esperança de encontrarmos o funeral, mas nada!
Já muito perto da outra cidade, sem saber qual a estrada de entrada, resolvi virar logo na primeira placa indicativa da cidade. Logo que pude perguntei onde era o cemitério. Seguimos as indicações e, fora do cemitério, estavam dois funerais para entrar, mas nenhum parecia ser o “do nosso morto”. Um tanto ou quanto acabrunhada dirigi-me a um cavalheiro que estava junto dos portões e perguntei:
-Pode- me dizer, por favor, se veio ou se ainda vem um funeral de fora da cidade, de um senhor que foi militar?
-Não, minhas senhoras, não veio nem vem, talvez seja para o outro cemitério do outro lado da cidade.
-E fica muito longe? Terei lugar de estacionamento?
- Não é muito longe, podem ir a pé.
E lá nos indicou o caminho, só que não conseguimos orientar-nos nessa cidade. Já tínhamos andado quase meia hora e nade de cemitério. Na nossa direção vinha um grupo de estudantes e voltamos a perguntar onde era o cemitério. Uma menina muito simpática disse-nos.
- Estão a ver aquelas árvores ali? O cemitério fica no quarteirão logo a seguir.
Ufa! Que alívio, pensamos nós. E lá fomos ao dito cemitério. Quando entramos não havia ninguém a não ser o coveiro a tapar uma sepultura. Fomos ter com ele e, antes que pudéssemos dizer alguma coisa, ele levantou-se, olhou para nós e disse com um ar muito espantado:
-As senhoras outra vez aqui?!
E responde a minha amiga com um ar muito contristado:
-Pois, e o pior é que o morto era meu sobrinho!...
Com imensa paciência o senhor voltou a explicar-nos onde ficava o outro cemitério, mas lá já fomos de carro, pois o dia declinava. Escusado será dizer que, quando encontramos o cemitério, já estava fechado e as pessoas já tinham todas regressado a casa.
Embora o dia não fosse propriamente um dia de alegria, fizemos a viagem de regresso a casa sempre a rir das nossas “trocas e baldrocas”. Ainda não tínhamos chegado a filha do defunto estava a telefonar, preocupada, com receio que nos tivesse acontecido alguma coisa e acabou por nos dizer que a Agência Funerária alterara a rota por causa do tráfego, mas que julgava que nós sabíamos.

De Maria La-Salete Sá

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