terça-feira, 10 de abril de 2012

JOANA E A FADA AZUL

Joana, uma menina de 9 anos, sempre gostou de desenhar, embora também sempre pensasse que os seus desenhos nunca ficavam como queria. Então fazia um, não gostava e rasgava, fazia outro, não gostava e rasgava... e assim sempre até achar que estava quase bem. Mas desta vez, cansada de tanto desenhar e rasgar o desenho da fada, olhou e pensou: “Vais ficar assim mesmo... não pareces bem uma fada, mas serás a minha fada...”
E continuou a olhar para o desenho, agora com outros pensamentos: “Vou pintar o teu vestido e os olhos de azul e terás cabelos pretos... vamos lá ver como ficas!”
Depois de toda pintada, com toques e retoques, Joana olhou o desenho e gostou tanto dele que pensou em emoldurá-lo para depois colocar na parede do seu quarto. E, se bem o pensou, melhor o fez! Aquele quadro, que agora mais parecia uma obra de um grande génio da pintura, fascinava-a.
À noite, antes de dormir, ficava uns momentos a olhar a fada e até parecia que ela queria falar, sobretudo quando se fixava mais no seu rosto.
E, com estes pensamentos, adormecia. Mas nem a dormir a fada deixava de estar presente. Tão presente que todas as noites tinha o mesmo sonho.
“Joana! Joana! Ouve! Tens que vir ao mundo das Fadas. Eu preciso da tua ajuda para entrar no teu mundo. Quando estiveres pronta chama por mim. Meu nome é...”
Mais uma vez a Joana acordava, sentava-se na cama, esfregava os olhos e dizia para consigo: “Devo estar maluca! Como pode um pedaço de papel falar assim comigo? Que sonho mais estúpido este! Se voltar a sonhar, rasgo o desenho e deito-o ao lixo.”
Só que, desta vez o sonho continuou.
“Joana! Joana! Sou eu! Fixa o meu nome, chamo-me Sara! Sara! Ouviste bem?”
Joana mexeu-se, estava quase a acordar, mas... umas mãos leves e macias pousaram sobre os seus olhos e ela continuou a dormir, permanecendo dentro do sonho.
“A Terra é um planeta cheio de vida, é um ser com alma e coração que, tal como tu, necessita de carinho e de amor para se sentir bem.”
“Mas como pode ser como eu?... Ela é apenas a Terra, nada mais.”
“Julgas que é só isso?!... Não! A Terra é um ser vivo, tem alma e coração, como te disse. Tal como tu precisa de cuidados, de carinho e de amor para sobreviver.”
“Mas não são os animais e as plantas que vivem? Não é a eles que devemos amar e respeitar?”
“Sim, mas há muitas mais coisas que precisas de saber. E para saberes é bom que possas ver e sentir. Por isso te faço este pedido: vem ter comigo ao mundo das Fadas.”
“E onde é esse mundo? Como vou lá ter? Não quero ir para a Terra do Nunca, não quero ficar longe dos meus pais...”
“Não tenhas receio, a Terra do Nunca também é a Terra do Sempre. É o mundo encantado, o mundo da fantasia onde a magia é real.”
“Então como posso ir ao teu mundo?”
“Ainda bem que perguntas. Pois bem, ouve com atenção o que te vou dizer. Quando acordares e quando quiseres pega no quadro que tens na parede, olha bem nos meus olhos e diz a frase mágica...”
“Qual? Qual?” -Joana estava tão empolgada com a possibilidade de entrar nesse mundo de magia, que quase nem deixava que a Sara falasse.
“Dizes assim: ”Sara, Sara, minha fada Azul, rainha das Fadas, mostra-me a Terra do Sempre.”
“E é só assim?” - perguntou com alguma incredulidade.
“Não, não é só assim. Antes de fazeres isso tens que dizer alto, de ti para ti: “Quero entrar no Mundo Azul”, mas dizê-lo com toda a convicção, com toda a certeza de que é mesmo isso que queres que aconteça. Então depois, e só depois é que fazes o apelo, ou seja, chamas por mim, repetindo a frase mágica. De seguida encostas o quadro ao teu coração, sentas-te e fechas os olhos.”
“E depois? E depois?” – continuou a Joana impaciente e ansiosa.
“Depois... deixa que a magia funcione. Agora dorme descansada.”
“Mas... Sara, não te vás embora, estou a gostar tanto de te ouvir falar, até parece que não estou a sonhar, parece mesmo real!”
“E é real. O sonho também é real, embora seja uma realidade diferente daquela em que os seres humanos acreditam. Continua a dormir. Eu vou sair do teu sonho, mas não sairei da tua vida.”
E Sara abandonou, de mansinho, o sonho da Joana. Esta, contudo, permaneceu nele pensando, pensando, pensando que... “no mundo das fadas não se deve falar português, talvez até nenhuma língua da Terra... Mas Sara falou e eu entendi, então não me devo preocupar se falam português, linguagem de varinha... Varinhês? Fadanês? Azu......”, talvez fosse dizer Azulês, mas perdeu-se no sono, saindo do sonho, sem resposta às suas questões.

De Maria La-Salete Sá

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