segunda-feira, 2 de abril de 2012

MENINA TRAQUINA



Menina traquina, de laços no cabelo,
olhos de amêndoa, sonhando as casinhas,
criando o teu mundo de fantasias,
braços cruzados a idealizar a vida...
Brincavas com a Joana, boneca de cartão,
e com o João,
menino careca, também de cartão.
Grande desilusão!
Deste-lhe banho, esqueceste-a na água,
lá se foi a Joana!
Ficou feita em papas a tua boneca!,
mas sobejava-te ainda o João careca!
Que lhe fizeste, menina traquina?
Foi-se um braço, foi-se uma perna...
Ficaram os calções, os vestidos da Joana
e meio João... O resto acabou-se!
Deitou-se ao lixo o farrapo de cartão!
Ficaste sozinha, sem Joana nem João!
Mas a tua cabecinha
sempre criou mundos lindos de fantasia...
Vieram mais bonecas
de plástico, de trapos, de meias.
Eram as tuas meninas, a tua alegria...

Um dia cresceste, deixaste as bonecas,
as casinhas, as plantas, as tuas couvinhas,
esqueceste as danças de roda,
a macaca, a bola e o pião...
Já não tinhas Joana nem João,
construíste outro universo,
outro mundo de gente adulta,
onde cresceste alheada na tua imaginação.
Sonhaste-o de paz e foi guerra,
construíste-o de amor e saiu revolta...
Foste iludida na teia da tua ilusão!
Que bom seria ser sempre criança,
ter nos olhos a luz da esperança,
ser menina traquina, sempre a sonhar,
mas ter na vida a força para amar!

Hoje, a menina que foste, a mulher que és,
esta que vive uma vida parada,
tem tanta saudade de quando chorou
a crueldade da Joana afogada
e do crescimento que idealizou...

De Maria La-Salete Sá

Sem comentários:

Enviar um comentário